Para o homem as questões
existenciais sempre serão menos complicadas de se resolver. Para as mulheres,
entrar numa fase balzaquiana aciona um alarme que pisca em letras garrafais:
“você vai ficar pra titia”; e toda essa babaquice que atormenta as mulheres que
chegaram aos inta. No almoço de Dia
das Mães me deparei com uma discussão à mesa sobre sexualidade. E não é que
descobri que minha família pensa que sou uma homossexual convicta? Não ao
estilo mulher macho, mas aquela mulher que não quer saber de relações
duradouras, que não tem paciência para homens coxinhas, bem arrumados, sem
pêlos na cara, vestindo camisas e usando sapatênis. E para consolidar o
pensamento de mãe e tias: Suzana não pensa em casar e ter filhos. Sim. Para os
moldes família, tradição e prosperidade, eu sou um caso perdido. Uma mulher com
32 anos de idade, que trabalha em casa, paga aluguel, lê um livro por mês, não
usa salto alto, pouca maquiagem, adora cerveja importada, curte futebol, joga
videogame, tem meia dúzia de pintos amigos e aversão/ódio de qualquer resquício
de redes sociais que ditam o ritmo diário da vida na comunidade virtual. Pois
bem. Aos olhos de minhas titias, primas e mãe, a Suzana é uma sapatona moderna.
Nunca apresentou um gajo para a família. Nunca sofreu por amor. Nunca pegou um
bebê no colo. Nunca vestiu um longo para festejar o casamento de uma amiga. E
por falar em amigas... minha mãe, dona de uma sinceridade de fel, falou em alto
e bom tom: Você chegou a transar com alguma amiga sua na minha casa? Cric-cric.
Som de grilos. Não, mãe, isso nunca aconteceu. Já com amigos...
Essa visão um tanto
machista não é exclusividade da minha família. Outras tantas estão espalhadas
pelo mundo compartilhando a mesma noção de mulher padrão que nasceu para
procriar e cuidar da casa. Quando você, mulher, tem uma certa inteligência, independência
financeira e não segue os padrões barbies contemporâneos, certamente, será
rotulada como um ser estranho que não se encaixa nos conceitos cartesianos da
sociedade. A velocidade que você é julgada por ter uma atitude ou opinião
diferentes da maioria é impressionante. Ninguém pode declarar que é melhor que
alguém. Mesmo que você seja um executivo de sucesso ou um atleta de alta
performance. Imagine se o ligeirinho do Usain Bolt usasse seu twitter para afirmar
que ninguém consegue superá-lo, que não existe ser humano na face da Terra
capaz de correr mais rápido que ele. Danou-se, né? O cara já não seria o atleta boa praça, o ídolo maior do
atletismo, o super homem das pistas. De bom moço, ele passaria a arrogante. Tão
rápido quanto seus recordes pelo mundo. Assim é a sociedade enfadonha que
vivemos. Você pode ser um fenômeno, uma lenda, um super, um imbatível... mas
nunca, me hipótese alguma, você poderá dizer isso com suas próprias palavras. Porque
muitas pessoas no mundo vão se sentir diminuídas. É a velha história que
Tarantino exemplificou no filme Kill Bill: “...o superman se veste de gente
comum pra se parecer tão ordinário quanto a raça humana...” O mundo tá ficando
muito chato, quadrado e repleto de pessoas intolerantes e incomodadas com o sucesso
do outro. Continuarei sendo a mesma até que o destino pregue alguma peça. Até
lá serei a sapatona descolada dos almoços dominicais. E foda-se.